sábado, 16 de maio de 2020

Osteoporose no transgênero

O uso dos hormônios para adequar ao gênero com o qual se identifica é prejudicial à saúde óssea? Esta é uma questão que incomoda os profissionais de saúde, assim como as pessoas transgêneros.

Quando se fala em saúde óssea o que está na mente é a palavra osteoporose. Este termo significa, de forma simplificada, uma determinada quantidade de osso por cada parte dele: quanto menor a quantidade, menos denso ele é, consequentemente mais frágil. (veja ilustração https://drauziovarella.uol.com.br/) Fratura óssea acontece com qualquer pessoa, e depende, inclusive, da força aplicada ao osso para fazê-lo quebrar. O que torna a osteoporose uma preocupação é que um osso acometido fratura com uma força menor que a necessária para fazer o mesmo com um osso saudável.

A pessoa transgênero tem uma chance maior que a pessoa cisgênero de ter osteoporose? O uso de hormônios aumenta a chance, em relação ao cis, da ocorrência de osteoporose?

A massa óssea está completa ao final da puberdade. Todo osso a ser formado o será na infância, na adolescência e início da idade adulta. Após ter encerrado o processo de formação óssea, nada é acrescentado, apenas mantido. Nesta manutenção, os hormônios estrógenos (conhecido como "feminino") e testosterona (conhecido como "masculino") têm função.

Na teoria, uma pessoa trans que chegou ao início da idade adulta sem fazer uso de hormônios, teria a mesma massa óssea que uma pessoa cis. Curiosamente, as mulheres trans chegam com uma discreta redução (não é osteoporose!) nesta idade, e os homens trans com um discreto aumento. Faltam dados sobre as pessoas não binárias.

Com o uso dos estrógenos, há melhora na densidade mineral óssea das mulheres trans. Com o uso da testosterona a densidade óssea dos homens trans é mantida.

Mas há várias questões para as quais faltam respostas. Por exemplo:
  • qual a dose de hormônios que será mais efetiva para a saúde óssea?
  • uso de bloqueadores hormonais pode ser prejudicial?
  • a retirada dos testículos na mulher trans, e dos ovários no homem trans, tem impacto negativo na saúde óssea?
O que fazer? As medidas válidas para todos os seres humanos que estimulam a manutenção da massa óssea:
  • atividade física regular (caminhada, andar de bicicleta, esportes, academia...)
  • não fumar (as centenas de substâncias presentes no tabaco têm efeito negativo na saúde óssea)
  • alimentação equilibrada, com atenção especial a quantidade de cálcio ingerida (dieta sem leite e derivados é difícil conseguir atingir o 1 grama diário necessário - pessoas vegetarianas ganham quando discutem sua dieta com profissional da nutrição)
  • não usar medicamentos sem prescrição médica, principalmente os que tem ações ou efeitos hormonais.

terça-feira, 5 de maio de 2020

Pessoas transgênero e o acesso aos serviços de saúde

Uma revisão da literatura médica [1] sobre acesso a saúde das pessoas LGBTQI+ realizada por uma equipe brasileira [2] encontrou informações que permitem concluir existir uma determinação social da homofobia (e, por extensão, de transfobia) que tem impacto no acesso aos serviços de saúde. Determinação social significa a existência de fatores não relacionados às pessoas individualmente, mas ao contexto social e cultural em que vivem.

  • estudo peruano com 2363 pessoas encontrou rejeição de 89% a homossexualidade e 88% a homossexualidade e bissexualidade femininas;

  • estudo brasileiro, informou que das 846 pessoas entrevistadas, 67% sofreram discriminação por serem homossexuais e 59% já haviam sido vítimas de alguma violência;

  • estudo canadense observou que a demonstração de afeto entre pessoas do mesmo gênero despertou a repulsa entre profissionais de saúde;

  • em uma unidade de saúde de Fortaleza, Ceará, esta população teme informar sua orientação sexual pelo receio de impacto negativo sobre o atendimento;

  • o medo e a vergonha pelas represálias sofridas após informar a orientação sexual em unidades de saúde colaboram para a existência de depressão, ansiedade, distúrbios de relacionamento, compulsão sexual, uso de drogas;

  • é mais fácil procurar o balconista da farmácia em busca de auxílio, que o(a) profissional habilitado(a);

  • a automedicação leva frequentemente a uma frequência maior nos setores de urgência e emergência, com potencial maior gravidade dos quadros;

  • as lésbicas fazem menos consultas preventivas que as heterossexuais, pela experiência negativa acumulada em consultas ginecológicas (onde achados físicos masculinizantes determinam mal-estar ao profissional);

  • as fontes de informações desta população são as pessoas conhecidas, parceiro(a)s, ONGs, livros, revistas e sites;


[1] tipo de avaliação científica que busca todos os estudos sobre determinado tópico. Eles são analisados e avaliados, procurando uma conclusão que leve em consideração todos eles
[2] ALBUQUERQUE, Grayce Alencar; GARCIA, Cintia de Lima; QUIRINO, Glauberto da Silva; ALVES, Maria Juscinaide Henrique; BELÉM, Jameson Moreira; FIGUEIREDO, Francisco Winter dos Santos; PAIVA, Laércio da Silva; NASCIMENTO, Vânia Barbosa do; MACIEL, Érika da Silva; VALENTI, Vitor Engrácia. Access to health services by lesbian, gay, bisexual, and transgender persons: systematic literature review. : systematic literature review. Bmc International Health And Human Rights, [s.l.], v. 16, n. 1, p. 1-10, 14 jan. 2016. Springer Science and Business Media LLC. http://dx.doi.org/10.1186/s12914-015-0072-9. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4714514/.

Fertilidade da pessoa transgênero

  Pessoas transgênero não são, por definição, incapazes de gerar crianças. Assim como qualquer pessoa, a história de vida pode acabar chegan...