segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

É necessária a histerectomia (retirada do útero) nos homens trans?

PORQUE FAZER ESTE ESTUDO: Preocupação com o aumento das chances de haver câncer de útero é uma preocupação nas pessoas trans de espectro masculino (PTEM), e de muitos profissionais de saúde que os auxiliam.
OBJETIVO: Verificar se o uso de testosterona causa modificações no útero das pessoas trans de espectro masculino que possam ser pré-malignas
COMO FOI FEITO: biópsias da camada interna do útero (endométrio) de 27 pessoas trans de espectro masculino foram comparadas com análises de 43 mulheres cis. O tempo de uso de testosterona pelas PTEM foi, em média, 33 meses (entre 12 e 54 meses)
QUAIS INFORMAÇÕES FORAM OBTIDAS: não houve evidências de que a testosterona cause modificações pré-malignas nas PTEM.
CONCLUSÕES: histerectomia preventiva pelo temor de surgir um câncer no útero das MT induzido pela testosterona não tem base científica até o momento.
COMENTÁRIOS: é um estudo com um número pequeno de PTEM, e poucas usaram mais que 4 anos de testosterona. Uma anomalia, pequeno pólipo, foi encontrado em 18% delas.

fonte: Perrone AM, Cerpolini S, Maria Salfi NC, et al. Effect of long-term testosterone administration on the endometrium of female-to-male (FtM) transsexuals. J Sex Med 2009; 6: 3193-200DOI: https://doi.org/10.1111/j.1743-6109.2009.01380.x

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Estatísticas em 11/12/19

Estatísticas envolvendo pessoas trans são difíceis de serem realizadas com a segurança necessária. Mas esta dificuldade não pode ser obstáculo para revelar as que existem - que somente poderão ser avaliadas corretamente se divulgadas.

A Folha de São Paulo publicou em 11/12/19 uma reportagem (https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/12/sp-tera-levantamento-para-saber-quantas-sao-e-como-vivem-as-pessoas-trans.shtml) que cita alguns números, informados pela ANTRA, ANDIFES e IBGE:


1,9%

é a estimativa de participação de pessoas trans no total da população brasileira



210 milhões

é o total de habitantes do Brasil



35 anos

é a expectativa de vida de uma pessoa trans no Brasil



76,3 anos

é a expectativa de vida da população brasileira



163 casos

de assassinatos contra trans foram registrados em 2018 no país



0,2%

é a participação de estudantes trans nas universidades federais brasileiras

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Hospital Júlia Kubitschek fará cirurgias de gênero em pacientes transexuais

O Hospital Júlia Kubitschek vai realizar a partir do ano que vem cirurgias para adequação do sexo em pacientes atendidos pelo Ambulatório Multidisciplinar Especializado no Processo Transexualizador (Ametrans) do Hospital Eduardo de Menezes. O anúncio foi feito pelo presidente da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), Fábio Baccheretti Vitor, na última quinta-feira (28). “Meu papel é fortalecer e dar todo o subsídio que o ambulatório precisa”, disse.

As cirurgias irão abranger masculinização e feminilização de tórax, correção de pomo-de-adão, prótese de mama e retirada de útero e ovários.

De acordo com a coordenadora técnica do ambulatório, a psicóloga e doutora na temática da transgeneridade, Andreia Reis, na primeira consulta, 78% dos homens transexuais manifestam o desejo de submeterem-se à mastectomia masculinizante. No caso das mulheres transexuais, 59% afirmam que pretendem realizar implante de prótese mamária bilateral.

O presidente da Fhemig também anunciou uma linha de cuidado destinada à saúde integral da população transexual e travesti.

Atuação
Desde sua criação, em novembro de 2017, até novembro deste ano, o ambulatório realizou aproximadamente três mil consultas e atendeu mais de 500 usuários, entre homens e mulheres transexuais, travestis e outras expressões de gênero, procedentes de 66 municípios mineiros. O atendimento, que é realizado por equipe multidisciplinar, contempla as clínicas de psicologia, serviço social, psiquiatria, clínica médica, ginecologia e endocrinologia.

O serviço assegura à população transgênera e travesti mais que a garantia do acesso à saúde, possibilita a esse grupo de indivíduos a ampliação de sua inserção social.

O homem trans René Augusto, usuário do ambulatório desde setembro de 2018, conta que “era apenas mais um homem trans perdido por aí. Eu tinha vários problemas de saúde pelo uso de hormônios sem orientação. No primeiro dia no ambulatório, eu não acreditei. Perguntaram como eu queria ser chamado. Pela primeira vez, fui respeitado e reconhecido como eu sou. Isso aqui é uma mudança fundamental para mim. Digo às pessoas para ligarem para o ambulatório, pois elas vão conhecer o paraíso”, afirmou André.

A mulher trans Yara de Almeida experimentou algo semelhante. Ela é atendida pelo ambulatório há um ano e três meses. “Antes, eu estava perdida, não sabia que rumo tomar. Com o ambulatório, aprendi uma grande lição, quero continuar aqui por muito tempo. O ambulatório é 50% da minha felicidade, os outros 50%, vou conquistar”, revelou Yara.


* Com Agência Minas
fonte: http://hoje.vc/2l9sq 

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Músculos: força, tamanho e composição em pessoas trans, 1 ano após uso de hormônios

PORQUE FAZER ESTE ESTUDO: Os esporte são, tradicionalmente, divididos entre homens e mulheres. Esta situação coloca as pessoas trans em uma situação difícil, e regras são colocadas sobre a sua participação em diversas competições. Mas permanece desconhecida a intensidade das modificações na massa e força musculares durante o uso de hormônios pelas pessoas trans.

OBJETIVO: Avaliar o impacto na função, tamanho e composição musculares durante 12 meses de uso cruzado de hormônios (hormônios de um gênero genético usados por pessoas geneticamente de outro).

COMO FOI FEITO: em uma única instituição, 11 mulheres trans e 12 homens trans que não faziam atividade física foram avaliados antes do início do uso cruzado de hormônios, quatro semanas após a supressão da produção dos seus hormônios naturais, e 4 e 12 meses após o início do uso cruzado. Foram avaliados a extensão do joelho, a força da flexão, o tamanho dos músculos e sua densidade radiológica.

QUAIS INFORMAÇÕES FORAM OBTIDAS: Nas pessoas trans de espectro masculino, o volume do músculo avaliado aumentou 15% e a densidade radiológica 6%. Nas pessoas trans de espectro feminino, houve redução de 5% no volume e não houve modificação na densidade radiológica. No período de 01 ano observado, houve aumento da força muscular no espectro masculino, enquanto que no feminino não houve modificação.

CONCLUSÕES: Um ano após o uso cruzado de hormônios houve aumento da força muscular nas pessoas trans de espectro masculino, e pequenas modificações nas mulheres trans.

COMENTÁRIOS: O ganho de massa muscular já é esperado nas pessoas trans de espectro masculino em virtude da ação da testosterona. O resultado deste estudo é válido apenas para as pessoas estudadas (22 pessoas trans em um universo de dezenas de milhares) e não pode ser aplicado às pessoas cis. Ele contribui com algumas informações para ajudar as instituições responsáveis pela honestidade das competições esportivas a buscar, junto com os outros estudos existentes, uma saída correta para a participação das pessoas trans nas competições esportivas.

fonte: Wiik Anna, Tommy R Lundberg, Rullman Eric, Daniel P Andersson, Holmberg Mats, Mandić Mirko, Torkel B Brismar, Dahlqvist Leinhard Olof, Chanpen Setareh, Flanagan John N, Arver Stefan, Gustafsson Thomas, Muscle strength, size and composition following 12 months of gender-affirming treatment in transgender individuals, The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, , dgz247, https://doi.org/10.1210/clinem/dgz247

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Uso de hormônios nas pessoas trans e o risco de câncer


Porque fazer este estudo:

Uma das maiores causas de morte ao redor do mundo é o câncer, nas suas mais variadas formas. Será que as pessoas trans morrem mais de câncer que as pessoas cis? Esta revisão do conhecimento médico acumulado até então tem o objetivo de responder a esta questão.

como foi feito o estudo:

os autores usaram base de dados da internet especializadas em artigos e pesquisas médicas. Usando critérios definidos, procuraram estudos publicados em inglês que avaliaram a ocorrência de tumores (incidência e prevalência) e a mortalidade entre pessoas trans. Foram encontrados 307 artigos, e foram úteis para a análise pelos critérios definidos, 43 artigos.

quais informações foram obtidas:

 os estudos avaliados (retrospectivos) sugerem que não há diferença de risco para câncer entre pessoas cis e pessoas transgêneras usando hormônios. Os autores chamaram a atenção que as pessoas trans são mais novas e o tempo de acompanhamento delas foi pequeno. 

conclusões:

são necessários estudos mais adequados envolvendo a população trans para avaliar se há maior risco de câncer. Os dados até agora dizem que não há risco aumentado, e que a preocupação em diagnosticar precocemente câncer nas pessoas trans deve seguir os mesmos critérios para o diagnóstico precoce nas pessoas cis.
fonte: McFarlane T, Zajac JD, Cheung AS.. Gender-affirming hormone therapy and the risk of sex hormone-dependent tumours in transgender individuals-A systematic review. Clin Endocrinol (Oxf). 2018 Dec;89(6):700-711. doi: 10.1111/cen.13835. Epub 2018 Sep 18

Fertilidade da pessoa transgênero

  Pessoas transgênero não são, por definição, incapazes de gerar crianças. Assim como qualquer pessoa, a história de vida pode acabar chegan...