segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

É necessária a histerectomia (retirada do útero) nos homens trans?

PORQUE FAZER ESTE ESTUDO: Preocupação com o aumento das chances de haver câncer de útero é uma preocupação nas pessoas trans de espectro masculino (PTEM), e de muitos profissionais de saúde que os auxiliam.
OBJETIVO: Verificar se o uso de testosterona causa modificações no útero das pessoas trans de espectro masculino que possam ser pré-malignas
COMO FOI FEITO: biópsias da camada interna do útero (endométrio) de 27 pessoas trans de espectro masculino foram comparadas com análises de 43 mulheres cis. O tempo de uso de testosterona pelas PTEM foi, em média, 33 meses (entre 12 e 54 meses)
QUAIS INFORMAÇÕES FORAM OBTIDAS: não houve evidências de que a testosterona cause modificações pré-malignas nas PTEM.
CONCLUSÕES: histerectomia preventiva pelo temor de surgir um câncer no útero das MT induzido pela testosterona não tem base científica até o momento.
COMENTÁRIOS: é um estudo com um número pequeno de PTEM, e poucas usaram mais que 4 anos de testosterona. Uma anomalia, pequeno pólipo, foi encontrado em 18% delas.

fonte: Perrone AM, Cerpolini S, Maria Salfi NC, et al. Effect of long-term testosterone administration on the endometrium of female-to-male (FtM) transsexuals. J Sex Med 2009; 6: 3193-200DOI: https://doi.org/10.1111/j.1743-6109.2009.01380.x

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Estatísticas em 11/12/19

Estatísticas envolvendo pessoas trans são difíceis de serem realizadas com a segurança necessária. Mas esta dificuldade não pode ser obstáculo para revelar as que existem - que somente poderão ser avaliadas corretamente se divulgadas.

A Folha de São Paulo publicou em 11/12/19 uma reportagem (https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/12/sp-tera-levantamento-para-saber-quantas-sao-e-como-vivem-as-pessoas-trans.shtml) que cita alguns números, informados pela ANTRA, ANDIFES e IBGE:


1,9%

é a estimativa de participação de pessoas trans no total da população brasileira



210 milhões

é o total de habitantes do Brasil



35 anos

é a expectativa de vida de uma pessoa trans no Brasil



76,3 anos

é a expectativa de vida da população brasileira



163 casos

de assassinatos contra trans foram registrados em 2018 no país



0,2%

é a participação de estudantes trans nas universidades federais brasileiras

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Hospital Júlia Kubitschek fará cirurgias de gênero em pacientes transexuais

O Hospital Júlia Kubitschek vai realizar a partir do ano que vem cirurgias para adequação do sexo em pacientes atendidos pelo Ambulatório Multidisciplinar Especializado no Processo Transexualizador (Ametrans) do Hospital Eduardo de Menezes. O anúncio foi feito pelo presidente da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), Fábio Baccheretti Vitor, na última quinta-feira (28). “Meu papel é fortalecer e dar todo o subsídio que o ambulatório precisa”, disse.

As cirurgias irão abranger masculinização e feminilização de tórax, correção de pomo-de-adão, prótese de mama e retirada de útero e ovários.

De acordo com a coordenadora técnica do ambulatório, a psicóloga e doutora na temática da transgeneridade, Andreia Reis, na primeira consulta, 78% dos homens transexuais manifestam o desejo de submeterem-se à mastectomia masculinizante. No caso das mulheres transexuais, 59% afirmam que pretendem realizar implante de prótese mamária bilateral.

O presidente da Fhemig também anunciou uma linha de cuidado destinada à saúde integral da população transexual e travesti.

Atuação
Desde sua criação, em novembro de 2017, até novembro deste ano, o ambulatório realizou aproximadamente três mil consultas e atendeu mais de 500 usuários, entre homens e mulheres transexuais, travestis e outras expressões de gênero, procedentes de 66 municípios mineiros. O atendimento, que é realizado por equipe multidisciplinar, contempla as clínicas de psicologia, serviço social, psiquiatria, clínica médica, ginecologia e endocrinologia.

O serviço assegura à população transgênera e travesti mais que a garantia do acesso à saúde, possibilita a esse grupo de indivíduos a ampliação de sua inserção social.

O homem trans René Augusto, usuário do ambulatório desde setembro de 2018, conta que “era apenas mais um homem trans perdido por aí. Eu tinha vários problemas de saúde pelo uso de hormônios sem orientação. No primeiro dia no ambulatório, eu não acreditei. Perguntaram como eu queria ser chamado. Pela primeira vez, fui respeitado e reconhecido como eu sou. Isso aqui é uma mudança fundamental para mim. Digo às pessoas para ligarem para o ambulatório, pois elas vão conhecer o paraíso”, afirmou André.

A mulher trans Yara de Almeida experimentou algo semelhante. Ela é atendida pelo ambulatório há um ano e três meses. “Antes, eu estava perdida, não sabia que rumo tomar. Com o ambulatório, aprendi uma grande lição, quero continuar aqui por muito tempo. O ambulatório é 50% da minha felicidade, os outros 50%, vou conquistar”, revelou Yara.


* Com Agência Minas
fonte: http://hoje.vc/2l9sq 

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Músculos: força, tamanho e composição em pessoas trans, 1 ano após uso de hormônios

PORQUE FAZER ESTE ESTUDO: Os esporte são, tradicionalmente, divididos entre homens e mulheres. Esta situação coloca as pessoas trans em uma situação difícil, e regras são colocadas sobre a sua participação em diversas competições. Mas permanece desconhecida a intensidade das modificações na massa e força musculares durante o uso de hormônios pelas pessoas trans.

OBJETIVO: Avaliar o impacto na função, tamanho e composição musculares durante 12 meses de uso cruzado de hormônios (hormônios de um gênero genético usados por pessoas geneticamente de outro).

COMO FOI FEITO: em uma única instituição, 11 mulheres trans e 12 homens trans que não faziam atividade física foram avaliados antes do início do uso cruzado de hormônios, quatro semanas após a supressão da produção dos seus hormônios naturais, e 4 e 12 meses após o início do uso cruzado. Foram avaliados a extensão do joelho, a força da flexão, o tamanho dos músculos e sua densidade radiológica.

QUAIS INFORMAÇÕES FORAM OBTIDAS: Nas pessoas trans de espectro masculino, o volume do músculo avaliado aumentou 15% e a densidade radiológica 6%. Nas pessoas trans de espectro feminino, houve redução de 5% no volume e não houve modificação na densidade radiológica. No período de 01 ano observado, houve aumento da força muscular no espectro masculino, enquanto que no feminino não houve modificação.

CONCLUSÕES: Um ano após o uso cruzado de hormônios houve aumento da força muscular nas pessoas trans de espectro masculino, e pequenas modificações nas mulheres trans.

COMENTÁRIOS: O ganho de massa muscular já é esperado nas pessoas trans de espectro masculino em virtude da ação da testosterona. O resultado deste estudo é válido apenas para as pessoas estudadas (22 pessoas trans em um universo de dezenas de milhares) e não pode ser aplicado às pessoas cis. Ele contribui com algumas informações para ajudar as instituições responsáveis pela honestidade das competições esportivas a buscar, junto com os outros estudos existentes, uma saída correta para a participação das pessoas trans nas competições esportivas.

fonte: Wiik Anna, Tommy R Lundberg, Rullman Eric, Daniel P Andersson, Holmberg Mats, Mandić Mirko, Torkel B Brismar, Dahlqvist Leinhard Olof, Chanpen Setareh, Flanagan John N, Arver Stefan, Gustafsson Thomas, Muscle strength, size and composition following 12 months of gender-affirming treatment in transgender individuals, The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, , dgz247, https://doi.org/10.1210/clinem/dgz247

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Uso de hormônios nas pessoas trans e o risco de câncer


Porque fazer este estudo:

Uma das maiores causas de morte ao redor do mundo é o câncer, nas suas mais variadas formas. Será que as pessoas trans morrem mais de câncer que as pessoas cis? Esta revisão do conhecimento médico acumulado até então tem o objetivo de responder a esta questão.

como foi feito o estudo:

os autores usaram base de dados da internet especializadas em artigos e pesquisas médicas. Usando critérios definidos, procuraram estudos publicados em inglês que avaliaram a ocorrência de tumores (incidência e prevalência) e a mortalidade entre pessoas trans. Foram encontrados 307 artigos, e foram úteis para a análise pelos critérios definidos, 43 artigos.

quais informações foram obtidas:

 os estudos avaliados (retrospectivos) sugerem que não há diferença de risco para câncer entre pessoas cis e pessoas transgêneras usando hormônios. Os autores chamaram a atenção que as pessoas trans são mais novas e o tempo de acompanhamento delas foi pequeno. 

conclusões:

são necessários estudos mais adequados envolvendo a população trans para avaliar se há maior risco de câncer. Os dados até agora dizem que não há risco aumentado, e que a preocupação em diagnosticar precocemente câncer nas pessoas trans deve seguir os mesmos critérios para o diagnóstico precoce nas pessoas cis.
fonte: McFarlane T, Zajac JD, Cheung AS.. Gender-affirming hormone therapy and the risk of sex hormone-dependent tumours in transgender individuals-A systematic review. Clin Endocrinol (Oxf). 2018 Dec;89(6):700-711. doi: 10.1111/cen.13835. Epub 2018 Sep 18

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Qual o intervalo entre as doses de testosterona?

O uso da testosterona é um dos recursos para a adequação do corpo da pessoa trans de espectro masculino. Há, atualmente, três formas disponíveis: injeção intramuscular a cada 3-4 meses, injeção intramuscular a cada 2 a 4 semanas, aplicação transdérmica (através da pele) diária. O objetivo é manter, na corrente sanguínea, valores de testosterona encontrados no homem cis. Colocando no gráfico:

No eixo vertical (y) está representada a quantidade de testosterona na corrente sanguínea; no horizontal (x), os dias do mês. A mulher cis também produz testosterona (em um par de glândulas chamado suprarrenal e pela transformação de pequena parte do hormônio estradiol - que produz em maior quantidade - em testosterona), em quantidade bem abaixo do mínimo do homem cis. Neste, a concentração sanguínea do hormônio oscila ao longo do dia, entre um valor máximo e um valor mínimo. A quantidade de testosterona não é a mesma todos os horários do dia, todos os dias do mês: ela flutua!

Quando a medicação é aplicada no músculo, a concentração no sangue sobe rapidamente, e fica acima daquela que é encontrada naturalmente no homem cis. Esta quantidade nada acrescenta à saúde da pessoa trans de espectro masculino ou a sua passabilidade, e dura alguns dias. Ela atinge os níveis desejáveis e neles permanece por um período de tempo variável (entre 15 e 30 dias) - cada pessoa tem seu próprio ritmo. Chega um momento em que eles ficam em níveis insuficientes. Colocando no gráfico:

Se os valores insuficientes chegarem em 15 dias, a aplicação da testosterona será a cada 15 dias; se chegarem em 20 dias, a cada 20 dias; e assim por diante.

Como saber? Fazendo a dosagem da testosterona 15, 20, ou tantos dias após a aplicação.



sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (Política Nacional de Saúde Integral LGBT).

PORTARIA Nº 2.836, DE 1º DE DEZEMBRO DE 2011

Institui, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (Política Nacional de Saúde Integral LGBT).
O MINISTRO DE ESTADO DA SAÚDE, no uso da atribuição que lhe confere o inciso II do parágrafo único do art. 87 da Constituição, e
Considerando o direito à saúde garantido no art. 196 da Constituição Federal;
Considerando o Decreto No- 7.508, de 28 de junho de 2011, que regulamenta a Lei No- 8.080, de 19 de setembro e 1990, e dispõe sobre a organização do Sistema Único de Saúde (SUS), o planejamento da saúde, a assistência à saúde e a articulação interfederativa, especialmente o disposto no art. 13, que assegura ao usuário o acesso universal, igualitário e ordenado às ações e serviços de saúde do SUS;
Considerando a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (Política Nacional de Saúde Integral LGBT), aprovada pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS) no ano de 2009;
Considerando o Plano Nacional de Promoção da Cidadania e dos Direitos Humanos de LGBT, da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH/PR), que apresenta as diretrizes para a elaboração de políticas públicas;
Considerando as determinações da 13ª Conferência Nacional de Saúde (Brasil, 2008) acerca da inclusão da orientação sexual e da identidade de gênero na análise da determinação social da saúde;
Considerando a diretriz do governo federal de reduzir as desigualdades sociais por meio da formulação e implantação de políticas e ações pertinentes;
Considerando a prioridade na implantação de políticas de promoção da equidade, garantidas no Plano Plurianual (PPA) e nas
diretrizes do Plano Nacional de Saúde;
Considerando a necessidade de promover a articulação entre as ações dos diversos órgãos do Ministério da Saúde e das demais instâncias do Sistema Único de Saúde, na promoção de ações e serviços de saúde voltados à população LGBT;
Considerando que a discriminação por orientação sexual e por identidade de gênero incide na determinação social da saúde, no
processo de sofrimento e adoecimento decorrente do preconceito e do estigma social reservado às populações de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais;
Considerando que o desenvolvimento social é condição imprescindível para a conquista da saúde;
Considerando que a exclusão social decorrente do desemprego, da falta de acesso à moradia e à alimentação digna, bem como
da dificuldade de acesso à educação, saúde, lazer, cultura interferem, diretamente, na qualidade de vida e de saúde;
Considerando que todas as formas de discriminação, como no caso das homofobias direcionadas à população LGBT (lesbofobia, gayfobia, bifobia, travestifobia e transfobia) devem ser consideradas na determinação social de sofrimento e de doença;
Considerando a existência de dados que revelam a desigualdade de acesso aos serviços de saúde pelas lésbicas e mulheres
bissexuais;
Considerando a necessidade de atenção especial à saúde mental da população LGBT;
Considerando a necessidade de ampliação do acesso ao Processo Transexualizador, já instituído no âmbito do SUS;
Considerando a necessidade de ampliação das ações e serviços de saúde especificamente destinados a atender às peculiaridades da população LGBT; e
Considerando a necessidade de fomento às ações de saúde que visem à superação do preconceito e da discriminação, por meio da mudança de valores, baseada no respeito às diferenças, resolve:
Art. 1º Esta Portaria institui a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (Política Nacional de Saúde Integral LGBT) no âmbito do SUS, com o objetivo geral de promover a saúde integral da população LGBT,
eliminando a discriminação e o preconceito institucional e contribuindo para a redução das desigualdades e para consolidação do SUS
como sistema universal, integral e equitativo.
Art. 2º A Política Nacional de Saúde Integral LGBT tem os seguintes objetivos específicos:
I - instituir mecanismos de gestão para atingir maior equidade no SUS, com especial atenção às demandas e necessidades em saúde da população LGBT, incluídas as especificidades de raça, cor, etnia, territorial e outras congêneres;
II - ampliar o acesso da população LGBT aos serviços de saúde do SUS, garantindo às pessoas o respeito e a prestação de
serviços de saúde com qualidade e resolução de suas demandas e necessidades;
III - qualificar a rede de serviços do SUS para a atenção e o cuidado integral à saúde da população LGBT;
IV - qualificar a informação em saúde no que tange à coleta, ao processamento e à análise dos dados específicos sobre a saúde da população LGBT, incluindo os recortes étnico-racial e territorial;
V - monitorar, avaliar e difundir os indicadores de saúde e de serviços para a população LGBT, incluindo os recortes étnico-racial e territorial;
VI - garantir acesso ao processo transexualizador na rede do SUS, nos moldes regulamentados;
VII - promover iniciativas voltadas à redução de riscos e oferecer atenção aos problemas decorrentes do uso prolongado de hormônios femininos e masculinos para travestis e transexuais;
VIII - reduzir danos à saúde da população LGBT no que diz respeito ao uso excessivo de medicamentos, drogas e fármacos, especialmente para travestis e transexuais;
IX - definir estratégias setoriais e intersetoriais que visem reduzir a morbidade e a mortalidade de travestis;
X - oferecer atenção e cuidado à saúde de adolescentes e idosos que façam parte da população LGBT;
XI - oferecer atenção integral na rede de serviços do SUS para a população LGBT nas Doenças Sexualmente Transmissíveis
(DSTs), especialmente com relação ao HIV, à AIDS e às hepatites virais;
XII - prevenir novos casos de cânceres ginecológicos (cérvico uterino e de mamas) entre lésbicas e mulheres bissexuais e ampliar o acesso ao tratamento qualificado;
XIII - prevenir novos casos de câncer de próstata entre gays, homens bissexuais, travestis e transexuais e ampliar acesso ao tratamento;
XIV - garantir os direitos sexuais e reprodutivos da população LGBT no âmbito do SUS;
XV - buscar no âmbito da saúde suplementar a garantia da extensão da cobertura dos planos e seguros privados de saúde ao
cônjuge dependente para casais de lésbicas, gays e bissexuais;
XVI - atuar na eliminação do preconceito e da discriminação da população LGBT nos serviços de saúde;
XVII - garantir o uso do nome social de travestis e transexuais, de acordo com a Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde;
XVIII - fortalecer a participação de representações da população LGBT nos Conselhos e Conferências de Saúde;
XIX - promover o respeito à população LGBT em todos os serviços do SUS;
XX - reduzir os problemas relacionados à saúde mental, drogadição, alcoolismo, depressão e suicídio entre lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, atuando na prevenção, promoção e recuperação da saúde;
XXI - incluir ações educativas nas rotinas dos serviços de saúde voltadas à promoção da autoestima entre lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais e à eliminação do preconceito por orientação sexual, identidade de gênero, raça, cor e território, para a sociedade em geral;
XXII - incluir o tema do enfrentamento às discriminações de gênero, orientação sexual, raça, cor e território nos processos de educação permanente dos gestores, trabalhadores da saúde e integrantes dos Conselhos de Saúde;
XXIII - promover o aperfeiçoamento das tecnologias usadas no processo transexualizador, para mulheres e homens; e
XXIV - realizar estudos e pesquisas relacionados ao desenvolvimento de serviços e tecnologias voltados às necessidades de saúde da população LGBT.
Art. 3º Na elaboração dos planos, programas, projetos e ações de saúde, serão observadas as seguintes diretrizes:
I -respeito aos direitos humanos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, contribuindo para a eliminação do estigma e da discriminação decorrentes das homofobias, como a lesbofobia, gayfobia, bifobia, travestifobia e transfobia, consideradas na determinação social de sofrimento e de doença;
II - contribuição para a promoção da cidadania e da inclusão da população LGBT por meio da articulação com as diversas políticas sociais, de educação, trabalho, segurança;
III - inclusão da diversidade populacional nos processos de formulação, implementação de outras políticas e programas voltados para grupos específicos no SUS, envolvendo orientação sexual, identidade de gênero, ciclos de vida, raça-etnia e território;
IV - eliminação das homofobias e demais formas de discriminação que geram a violência contra a população LGBT no âmbito do SUS, contribuindo para as mudanças na sociedade em geral;
V - implementação de ações, serviços e procedimentos no SUS, com vistas ao alívio do sofrimento, dor e adoecimento relacionados aos aspectos de inadequação de identidade, corporal e psíquica relativos às pessoas transexuais e travestis;
VI - difusão das informações pertinentes ao acesso, à qualidade da atenção e às ações para o enfrentamento da discriminação, em todos os níveis de gestão do SUS;
VII - inclusão da temática da orientação sexual e identidade de gênero de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais nos processos de educação permanente desenvolvidos pelo SUS, incluindo os trabalhadores da saúde, os integrantes dos Conselhos de Saúde e as lideranças sociais;
VIII - produção de conhecimentos científicos e tecnológicos visando à melhoria da condição de saúde da população LGBT; e
IX - fortalecimento da representação do movimento social organizado da população LGBT nos Conselhos de Saúde, Conferências e demais instâncias de participação social.
Art. 4º Compete ao Ministério da Saúde:
I -apoiar, técnica e politicamente, a implantação e implementação das ações da Política Nacional de Saúde Integral LGBT nos Estados e Municípios;
II -conduzir os processos de pactuação sobre a temática LGBT no âmbito da Comissão Intergestores Tripartite (CIT);
III -distribuir e apoiar a divulgação da Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde nos serviços de saúde, garantindo o respeito ao uso do nome social;
IV -definir estratégias de serviços para a garantia dos direitos reprodutivos da população LGBT;
V -articular junto às Secretarias de Saúde estaduais e municipais para a definição de estratégias que promovam a atenção e o cuidado especial com adolescentes lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, garantindo sua saúde mental, assim como acolhimento e apoio;
VI - articular junto às Secretarias de Saúde estaduais e municipais para a definição de estratégias que ofereçam atenção à saúde de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais em situação carcerária, conforme diretrizes do Plano Nacional de Saúde no Sistema Penitenciário;
VII - promover, juntamente com as Secretarias de Saúde estaduais e municipais, a inclusão de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais em situação de violência doméstica, sexual e social nas redes integradas do SUS;
VIII -elaborar protocolos clínicos acerca do uso de hormônios, implante de próteses de silicone para travestis e transexuais;
IX - elaborar protocolo clínico para atendimento das demandas por mastectomia e histerectomia em transexuais masculinos, como procedimentos a serem oferecidos nos serviços do SUS;
X - incluir os quesitos de orientação sexual e de identidade de gênero, assim como os quesitos de raça-cor, nos prontuários clínicos, nos documentos de notificação de violência da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS/MS) e nos demais documentos de identificação e notificação do SUS;
XI -promover, junto às Secretarias de Saúde estaduais e municipais, ações de vigilância, prevenção e atenção à saúde nos casos de violência contra a população LGBT, de acordo com o preconizado pelo Sistema Nacional de Notificação Compulsória de Agravos;
XII - incluir conteúdos relacionados à saúde da população LGBT, com recortes étnico-racial e territorial, no material didático usado nos processos de educação permanente para trabalhadores de saúde;
XIII -promover ações e práticas educativas em saúde nos serviços do SUS, com ênfase na promoção da saúde mental, orientação sexual e identidade de gênero, incluindo recortes étnico-racial e territorial;
XIV - fomentar a realização de estudos e pesquisas voltados para a população LGBT, incluindo recortes étnico-racial e territorial;
XV - apoiar os movimentos sociais organizados da população LGBT para a atuação e a conscientização sobre seu direito à saúde e a importância da defesa do SUS; e
XVI - disseminar o conteúdo desta Política Nacional de Saúde Integral LGBT entre os integrantes dos Conselhos de Saúde.
Art. 5º Compete aos Estados:
I - definir estratégias e plano de ação para implementação da Política Nacional de Saúde Integral LGBT no âmbito estadual;
II -conduzir os processos de pactuação sobre a temática LGBT na Comissão Intergestores Bipartite (CIB);
III - coordenar, monitorar e avaliar a implementação desta Política Nacional de Saúde Integral LGBT, na esfera estadual, garantindo apoio técnico aos Municípios;
IV - promover a inclusão desta Política Nacional de Saúde Integral LGBT nos Planos Estaduais de Saúde e nos respectivos Planos Plurianuais (PPAs);
V - planejar, implementar e avaliar as iniciativas para a saúde integral da população LGBT, nos moldes desta Política Nacional de Saúde Integral LGBT;
VI - incentivar a criação de espaços de promoção da equidade em saúde nos Estados e Municípios;
VII - promover ações intersetoriais da saúde integral da população LGBT, por meio da inclusão social e da eliminação da discriminação, incluindo os recortes étnico-racial e territorial;
VIII - incluir conteúdos relacionados à saúde da população LGBT, com recortes étnico-racial e territorial, no material didático usado nos processos de educação permanente para trabalhadores de saúde;
IX -promover ações e práticas educativas em saúde nos serviços do SUS, com ênfase na promoção da saúde mental, orientação sexual e identidade de gênero, incluindo recortes étnico-racial e territorial; e
X - estimular a representação da população LGBT nos Conselhos Estadual e Municipal de Saúde e nas Conferências de Saúde.
Art. 6º Compete aos Municípios:
I - implementar a Política Nacional de Saúde Integral LGBT no Município, incluindo metas de acordo com seus objetivos;
II - identificar as necessidades de saúde da população LGBT no Município;
III -promover a inclusão desta Política Nacional de Saúde Integral LGBT no Plano Municipal de Saúde e no PPA setorial, em consonância com as realidades, demandas e necessidades locais;
IV -estabelecer mecanismos de monitoramento e avaliação de gestão e do impacto da implementação desta Política Nacional de Saúde Integral LGBT;
V -articular com outros setores de políticas sociais, incluindo instituições governamentais e não-governamentais, com vistas a contribuir no processo de melhoria das condições de vida da população LGBT, em conformidade com esta Política Nacional de Saúde Integral LGBT;
VI - incluir conteúdos relacionados à saúde da população LGBT, com recortes étnico-racial e territorial, no material didático usado nos processos de educação permanente para trabalhadores de saúde;
VII - implantar práticas educativas na rede de serviço do SUS para melhorar a visibilidade e o respeito a lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais; e
VIII - apoiar a participação social de movimentos sociais organizados da população LGBT nos Conselhos Municipais de Saúde, nas Conferências de Saúde e em todos os processos participativos.
Art. 7º Ao Distrito Federal compete os direitos e obrigações reservadas aos Estados e Municípios.
Art. 8º Cabe à Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa (SGEP/MS) articular no âmbito do Ministério Saúde e junto aos demais órgãos e entidades governamentais, a elaboração de instrumentos com orientações específicas que se fizerem necessários à implementação desta Política Nacional de Saúde Integral LGBT.
Art. 9º Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.

ALEXANDRE ROCHA SANTOS PADILHA

Processo Transexualizador do SUS

O Processo Transexualizador no Sistema Único de Saúde foi instituído por meio da Portaria nº 1.707/GM/MS, de 18 de agosto de 2008 e da Portaria nº 457/SAS/MS, de 19 de agosto de 2008. Estas portarias estavam pautadas na habilitação de serviços em hospitais universitários e na realização de procedimentos hospitalares. 
Considerando a grande demanda dos Movimentos Sociais LGBT pela ampliação do atendimento especializado às pessoas transexuais e travestis e pelo acolhimento sem discriminação, tanto na atenção básica quanto na atenção especializada, em 30 de julho de 2013 foi publicada a Portaria nº 859 com o objetivo de revisar a “lógica do cuidado” por meio da estruturação de uma linha de cuidado organizando a atenção à saúde desde a atenção básica à especializada, sendo esta última focada não somente no procedimento cirúrgico e hospitalar, mas também na estruturação e ampliação dos serviços de atenção ambulatorial.
No entanto, tendo em vista a necessidade de definição de protocolos clínicos de atendimento no âmbito do processo transexualizador, foi publicada a Portaria nº 1. 579, de 31 de julho de 2013, que suspendeu os efeitos da Portaria SAS nº 859 até que fossem definidos os referidos protocolos. Em 19 novembro de 2013 foi, então, publicada a Portaria nº 2.803(*) que redefiniu e ampliou o Processo Transexualizador no Sistema Único de Saúde - SUS.
O objetivo é atender as pessoas que sofrem com a incompatibilidade de gênero, quando não há reconhecimento do próprio corpo em relação à identidade de gênero (masculino ou feminino). A condição transexual, em nossa sociedade, gera um intenso sofrimento ao não se reconhecerem no corpo biológico. Esta situação leva a diversos distúrbios de ordem psicológica acompanhados de tendências à automutilação e ao suicídio (Arán, 2009).
A implementação do Processo Transexualizador no SUS, que regulamenta os procedimentos para a readequação sexual, se insere no contexto da Política Nacional de Saúde Integral LGBT e o desafio subseqüente é a garantia do acesso a todas as pessoas que necessitam desta forma de cuidado.
fonte: http://www.saude.gov.br/atencao-especializada-e-hospitalar/especialidades/processo-transexualizador-no-sus (acessado em 09.11.19, 13:00 h - clique no atalho para a última versão do texto)

Fertilidade da pessoa transgênero

  Pessoas transgênero não são, por definição, incapazes de gerar crianças. Assim como qualquer pessoa, a história de vida pode acabar chegan...