sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Testosterona,estrógenos e bloqueadores devem ser suspensos antes de cirurgias?

Por que uma medicação deveria ser suspensa antes de uma cirurgia? Algumas razões:
- a medicação interfere com o resultado da cirurgia, de modo desfavorável
- a medicação aumenta os riscos da cirurgia
- a medicação aumenta os risco da anestesia
- a medicação torna a recuperação após a anestesia mais demorada
- a medicação torna a recuperação após a cirurgia mais demorada

Exemplo: o uso de ácido acetil salicílico (medicamento presente no AAS, Ronal, Aspirina, dentre outros) aumenta o tempo necessário para a coagulação sanguínea, o que pode aumentar as chances de problemas durante a cirurgia; o uso não informado de medicamentos para dormir pode fazer a recuperação após a anestesia ser mais demorada.

Mas há medicamentos que não podem ser interrompidos, exceto sob orientação do(a) cirurgião(ã) ou anestesista. Por exemplo, medicamentos para tratar hipertensão arterial e diabetes.

E quanto aos hormônios usados pelas pessoas transgêneras, binárias e não binárias?

Faltam estudos médicos bem feitos para resolver esta questão. Os que existem, atualmente, quando analisados em conjunto, sugerem que não é necessário descontinuar a testosterona (hormônio que induz características conhecidas na nossa cultura como relacionadas ao gênero masculino) ou a espironolactona (substância que bloqueia parcialmente a ação da testosterona). Os estudos que sugerem ser prudente suspender os estrógenos (hormônio que induz características conhecidas na nossa cultura como relacionadas ao gênero feminino) não foram realizados em pessoas trans, mas em mulheres cis com doses que, habitualmente, não são utilizadas pelas trans. E eles deram resultados que se contradizem.
Um grupo de pesquisadores comparou 4.598 pessoas que não usavam testosterona e 947 homens trans maiores de 40 anos que usavam e que foram submetidas a cirurgias diversas, nenhuma delas cardíaca. Os resultados foram os seguintes:

Problema de saúde
Percentual de homens trans acometidos
Percentual de homens cis acometidos
Morte após cirurgia
1,3%
1,1%
Infarto do miocárdio ("infarto no coração")
0,2%
0,6%
Acidente vascular cerebral ("derrame")
2,0%
2,1%
embolia pulmonar
0,5%
0,7%
Trombose venosa
2,0%
1,7%

Analisar esta tabela não é tão fácil como parece. É necessário muito cuidado para não chegar a conclusões erradas. Por exemplo, não pode ser concluído que testosterona protege contra embolia pulmonar ou acidente vascular cerebral ("derrame") ou infarto do miocárdio ("infarto no coração"). Uma análise que os estatísticos fazem pode dizer se o que parece ser verdade (testosterona aumenta muito pouco o risco de trombose venosa e o de morte após cirurgias) é realmente verdade.

Os dados que existem até agora, analisados por estes especialistas, sugerem que o uso de testosterona, estrógenos e espironolactona não aumenta os riscos durante e após cirurgias não relacionadas ao coração. Portanto, não é uma obrigação suspender esses hormônios antes. Mas pode ser uma sugestão do(a) cirurgião(ã) quando ele/ela se sentir mais à vontade e tranquilo para realizar uma cirurgia em pessoa trans.

Um comentário:

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